sábado, 9 de julho de 2011

Fios de mulher

Mais de 120.000 fios em algumas cabeças, essas substâncias fantásticas e resistentes que elas carregam por toda a vida o conduzem em seu magnetismo e eletricidade. Sim, os cabelos de mulher provocam impulsos, o fazem tremer, ou simplesmente o acalmam, ao serem contornados em suas delicadas orelhas.

Os favoritos deste escritor são os ruivos, e por eles é que ele perde o sono esta noite. As sardas, as covinhas no sorriso, são meros acessórios sedutores da musa deste sonho. Ele caminha através de ruas cobertas de folhas ao chão, em uma cidade vazia, com prédios e mais prédios se encontrando nas várias quadras, que percorre com os pés suados e descalços.

Com as passadas, são passados os momentos que não cabem no tempo. Ela anda em um vestido branco, sempre olhando para trás com o riso gostoso, deixando gosto de saliva na boca do amigo das letras, que contaria aos amigos se pudesse, a vantagem de estar aqui neste momento.

Fios brancos dos seus cabelos são pretos no sonho, já que ele é um rapazote de novo. É ela a mulher que deixou para trás quando cresceu, é sua primeira e sua eterna paixão. Passa a correr, contrariado de não alcançar jamais a dama que o despista. Não é à toa que a cidade inteira está vazia: tão caprichosa que é, esse cenário tem que ser só seu.

Assim como as ruas conduzem o perseguidor, são conduzidas as pegadas de seus pés sujos, a um rumo que não se sabe ao certo, já que as horas caminham para o fim de mais uma noite de suor e solidão. O relógio marca 5 da manhã, hora de se embriagar um pouco mais para poder voltar a dormir. De tanto repetir o sonho, já é um relógio ajustado seu próprio corpo, que pede de novo pela rotina. Um gole, dois goles, três... apagam da memória a dama do passado, para que amanhã surja nova inspiração para escrever, vencida a tristeza.