quinta-feira, 28 de abril de 2011

Enxergando em vermelho

Na alegria e na tristeza, o canal lacrimal é o mesmo. De tanto rir e chorar, e chorar de rir,desgastamos ao longo da vida a água de um recurso que temos em nós, felizmente renovável. No início de nossas vidas, choramos para a vontade de viver se manifestar, e para mostrar que temos voz, e no final delas, sorriremos se nada mais puder ser dito.

Derramaremos sangue, suor e lágrimas ao longo do caminho, mas sempre haverá alguém por quem faremos isso, mais que nós mesmos. Alguns um pouco mais, outros um pouco menos, como se houvesse em certos de nós uma válvula ou um botão de “desliga” para ativar e desativar os sentimentos.

Lutaremos para descobrir a resposta de como renovar certas fontes no mundo, mesmo sabendo no fundo que a resposta está em nós mesmos, ferramenta poderosa que é o autoconhecimento e os infinitos reflexos de seu domínio no cenário que nos cerca.

De olhos doentes, enxergaremos novos aspectos de nossa realidade, como de um grande cárcere ou privação pode surgir uma inspiração iluminada, ou algo que o valha. De nossas divagações estão nascendo vários novos cenários, várias infinitas possibilidades o tempo inteiro, e se não pudéssemos selecioná-las, enlouqueceríamos.

Às vezes, como tenho constatado, do mais simples modo de vida surgem os mais completos resultados. Há que ser simples dizer a verdade, dizer o que se sente, conquistar o que nos é de direito, se assim o permitirmos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um salto de fé

Ele sai de casa. Passos firmes que delatariam, se pudessem falar que está atrasado. Se nenhum de seus relógios lhe traz a hora em uma bandeja, como está acostumado, às vezes comete esses deslizes. De tão complicado adaptar-se a sua nova realidade, vindo de tão longe, não é raro tentar contornar tudo com bom humor, e é assim que faz neste momento.

Ao contornar a esquina de seu bairro, depara-se com a nova façanha que o aguarda: apanhar o ônibus que já parte apressado do ponto de parada. Está obstinado. Mira para o objetivo com um olhar firme e dá passos largos, agora leves, velozes o suficiente para tornar-se desengonçado, o salto que dá para pegar o fugitivo é parecido com um bote de um felino em sua presa.

Seria épico se não fosse cômico: um adolescente com as pernas balançantes em pleno ar, agarrando-se desesperado a duas barras de apoio, que para completar estão meio bambas. Sua real sorte está apenas no fato de ser ainda incomum que haja tantos observadores assim a essa hora da manhã.

Sabe-se lá a hora em que surge um novo carro nessas horas, seu bairro é muito afastado, quase periférico. Impressionante como a adrenalina faz a cabeça calcular de tudo nessas horas, e conta malfeita aqui termina em tragédia.

O motorista assustado quase deixa morrer o motor do coletivo, com o som de algo sendo arremessado para dentro do ônibus. Santas Inércia e Gravidade, sua providência não permitiu que o pecador se esborrachasse. Está indo para a aula no colégio católico, afinal, tem que contar sempre com milagres, e assim ri de si mesmo, esperando contar o feito aos amigos.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Asas

Que fascinante é a mente humana. Se estamos com os pensamentos inundados por tristezas e decepções, tendemos a literalmente mergulhar nesse estado. Mas ainda assim, a busca pela superfície nos leva a um caminho cheio de esperanças, e surgem belas novas idéias de como não acabar novamente dessa forma, quase afogados.

Nos momentos mais obscuros e reservados, nutrimos reflexões tão elaboradas e profundas que surgem belos textos, belas impressões de como encaramos a vida. Se o motivo de tais decepções é o fracasso próprio ou de outros, atingimos diferentes graus de introspecção, e quanto mais profundas as águas dessas cavernas escondidas em nossas mentes, mais parecemos reunir fôlego, sempre querendo descobrir o fim do túnel.

Como um praticante de apnéia (que normalmente não passa dos 40), duram pouco esses períodos de inspiração e assim como falta o ar aos pulmões depois de tanto mergulhar, surgem os bloqueios, “morre” a vontade de produzir algo novo. Mas o mais magnífico pouco há de ser como um pássaro capaz de mergulhar nas águas e voar ao emergir delas, buscando o alimento que nutre seu corpo, e aqui, neste caso, nossa alma.

Dar asas à imaginação ao invés de permitir apenas que mergulhe na tristeza. Nenhuma tristeza é invencível, mas é preciso, como o pássaro, estar sempre em bando ao tentar encontrar um novo caminho, pois é de onde retiramos nossa inspiração, de novos caminhos.

Aquele que torna suas melhores idéias uma contribuição às de outro, ou uma feliz comparação ao que já é consagrado é felizardo. Somos todos como crianças nesses novos tempos, sempre em busca de reconhecimento, como tive a felicidade de ouvir dizer um escritor num belo filme, e reconheço a criança que às vezes volta a ensinar ao adulto que me tornei.

domingo, 3 de abril de 2011

Sobre novos começos e frutos...

Os tempos mudaram. Não há nada de mais esperançoso que um novo começo. Penso que existem agora novas possibilidades, se conseguir lidar com os sentimentos que cavaram seu caminho até a superfície. Tenho novamente a vontade de rugir e afugentar todos eles.

Não há mal que não possa ser afastado, e talvez existam no fim desse horizonte muitas páginas de uma longa história de redenção. Penso que ainda posso fazer desse livro um best-seller em meu coração. Meu leitor mais crítico, mais exigente, está faminto, e descubro que sou eu mesmo e meu ego de leão.

Ainda não havia me alimentado de duas mordidas, mas desta vez manifestei fome maior,e este alimento é para a alma. Todo desabafo traz consigo uma leveza, e como tal, minha "pluma" estava sobre o papel, e leve como é, pairou sobre minha criatividade e deu asas a isto.

Sou novo e há velhos dentro de mim, que parecem me apegar ao meu comodismo. Mas o velho espírito às vezes habita corpo jovem, e sabedoria vem com isso, somada um vigor para caçar novas presas. Quero ser uma fera enquanto lido com esses conflitos da alma, e ser um pássaro enquanto lido com a leveza da vida simples que escolhi para esta nova fase.