terça-feira, 8 de junho de 2010

Salvo pelo rugido

Não salvo meu sorriso, deixo que ele salve alguém. Estou certo de que tudo que faço aos outros, faço também a mim mesmo. Não quero me arrepender do que não pode ser desfeito, mas fazer de novo e bem feito. Esse rugido, que se enche do meu orgulho, não faz medo a quem sabe o que me abate. Quero o que é meu mas conto com uma justiça que não me inclui em sua balança.
Está tudo mais difícil nesses últimos tempos, talvez para me fazer entender que não é de conforto que surge meu sucesso. Cada sorriso, cada gesto, cada intenção, está carregada de uma revolta que vem de mim e contra mim. Não sei se posso fazer de conta que estou plantado neste chão, e essa onda não está me empurrando.
Não entendem que minha felicidade nunca importa, e me alimento de sorrisos sinceros, dos outros, essa fome que vem da alma e é mais forte que a fome do corpo. Meu legado é meu defeito, minha fé neles que não tem por onde nem razão de ser. O nome, que vem de tragédia grega, parece que dita meu destino, e tento adotar este símbolo, o leão, como meu.
Nunca é tarde por aqui, e depois de rugir de orgulho, estou montado em minha presa, ditando a ela o que é meu por direito. Não sou eu quem pratica essa caçada, só recolho o fruto. Estou saciado e pronto para dormir como tal. O sono é perturbado, e sou frágil encolhido no frio. Tenho pele de homem, mas tenho olhos ferozes para encarar o mundo em que me deixa o sonho. Estou fugindo do contato, fugindo da profundidade dos encontros, deitado aqui e evitando o mundo. Nunca é tarde porque o dia é sempre meu, não deixo que seja dos outros, e meu tempo está acima daquele dos que me cercam. Será que me tornei leão e me perdi do homem despretensioso?

Um comentário:

  1. vou alimentar seu ego só mais um pouquinho e dizer que você escreve muito bem =)

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