segunda-feira, 7 de junho de 2010

Olhar perdido do resto

No escuro do abandono, jaz o menino. Passam pessoas, desenvolvem trajetórias os carros, e passa despercebido o olhar perdido do menino abandonado. Por mais que passe o tempo curto de sessenta segundos de um semáforo fechado, parece infinito, e nem sempre se vê lágrima no escuro, como diz o ilustre artista brasileiro em sua canção. Para quem sabe o que é o abandono, não é fato a ser comentado, pois repete todos os dias o mesmo trajeto na vida.
Ainda que não se saiba se está escuro, para o abandonado há um lugar no interesse das pessoas que é escuro, quando se trata da urgência do cotidiano. As luzes do semáforo não bastam para iluminar o olhar perdido do menino, que se perde em meio aos carros. No ponto de parada em que as rotinas se cruzam, o menino jaz, abandonado.
Nas cores dos carros, nos reflexos dos retrovisores, no brilho dos faróis, não há espaço para a vida sem cor do menino, que assim tem os olhos de quem enfrenta o desamparo. Tudo acontece ao mesmo tempo, e em tempos separados, pois ninguém tem tempo de reparar no menino que jaz ali, na rua, abandonado.
Será que está mesmo perdido o olhar do menino, ou está de encontro à situação com a qual tem que lidar todos os dias de sua vida? Ainda que curta, a vida do menino já lhe dá motivos para olhar para o horizonte e esquecer de todo o resto. Parece ele o resto, no ritmo que a vida toma. Resta, para nós, revermos o motivo pelo qual nos afastamos do menino, para que não tome conta do resto de nossas vidas o arrependimento.

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