sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dentre todos os medos

Estou cercado. Ruídos de insetos, balançar de folhas, suor, sangue e lágrimas.É noite, e os sussurros da mata estão violentando meus ouvidos, cheios de adrenalina da perseguição. Tenho argolas penduradas neles, sou um caçador da tribo e tenho orgulho de polir a lança.
Estou me lançando na mata sob os olhares medrosos de minha família, para enfrentar o leão perigoso, e obter sua pele.Medo é tudo que não se pode sentir aqui.Tenho dentes das feras para dar sorte, superstição antiga. A idéia de que já estão mortos diante de minha coragem faz minha tarefa simples. Estou correndo numa velocidade cansativa, mas o leão poderoso sabe que seu rugido não deve ser ignorado, está sinalizando que algum animal aqui é sua presa, eu incluído nestes.
Muda o cenário.Animais em pânico, árvores estáticas, silêncio que precede o desfecho. Só sabe qual seu destino aquele que tem experiência nesses jogos sem regras. Sou por sorte o animal com o maior instinto de preservação. Corro tão atento que não perco nada, a distância é que se perde de mim.
Estou sem fôlego, e resolvo fazer a parada. Sou abocanhado pelas costas, a dor toma conta antes da reação mais segura, que é revidar com a lança. Perco a força diante de tanta fome, de tanta dedicação à caça, que não é do leão, é da leoa, aquele está seguro, longe do meu alcance, longe do meu rugido.
Acordo.Não sou caçador, sou homem orgulhoso e leonino, e apenas sonhava. Devem ser esses tempos em que falam da África, a mente prega sua peça. Mas aqui nessa selvageria dos papéis, que controlam o ritmo dos nossos dias, não tenho medo de morrer de mordida...tenho um medo dentre todos:de morrer abocanhada minha criatividade.

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