segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um salto de fé

Ele sai de casa. Passos firmes que delatariam, se pudessem falar que está atrasado. Se nenhum de seus relógios lhe traz a hora em uma bandeja, como está acostumado, às vezes comete esses deslizes. De tão complicado adaptar-se a sua nova realidade, vindo de tão longe, não é raro tentar contornar tudo com bom humor, e é assim que faz neste momento.

Ao contornar a esquina de seu bairro, depara-se com a nova façanha que o aguarda: apanhar o ônibus que já parte apressado do ponto de parada. Está obstinado. Mira para o objetivo com um olhar firme e dá passos largos, agora leves, velozes o suficiente para tornar-se desengonçado, o salto que dá para pegar o fugitivo é parecido com um bote de um felino em sua presa.

Seria épico se não fosse cômico: um adolescente com as pernas balançantes em pleno ar, agarrando-se desesperado a duas barras de apoio, que para completar estão meio bambas. Sua real sorte está apenas no fato de ser ainda incomum que haja tantos observadores assim a essa hora da manhã.

Sabe-se lá a hora em que surge um novo carro nessas horas, seu bairro é muito afastado, quase periférico. Impressionante como a adrenalina faz a cabeça calcular de tudo nessas horas, e conta malfeita aqui termina em tragédia.

O motorista assustado quase deixa morrer o motor do coletivo, com o som de algo sendo arremessado para dentro do ônibus. Santas Inércia e Gravidade, sua providência não permitiu que o pecador se esborrachasse. Está indo para a aula no colégio católico, afinal, tem que contar sempre com milagres, e assim ri de si mesmo, esperando contar o feito aos amigos.

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