domingo, 22 de agosto de 2010

Paradas da vida

"De olho" na paisagem escondida na neblina, ela pensa que esse trem podia estar mais cheio. Parada de Doido. O nome da estação é esse mesmo. Com suas histórias em particular é aqui que ela desce. Por onde veio, só não vai quem já morreu, literalmente. Passam por cinco cemitérios em uma hora de percurso, esses vagões.

Por mais que seja saudável trabalhar com o que se gosta, ela desgosta do que lhe dá trabalho.Uma legista.É triste o fato de pessoas terem que morrer pra que ela ganhe seu pão. Não que ela tenha muito do que reclamar deste dia em especial, que é de pagamento. Para aqui pra lidar com seus ganhos. Discutir com um gerente que quer matar.

Para e pensa que o canivete que leva à bolsa faz um belo estrago. Mas o estrago já está feito: calculando a distância do local do fato pra Parada onde fica o Instituto Médico Legal onde trabalha, vai ter que fazer ela mesma a autópsia do próprio crime.Caso encerrado. Esta aí uma morte que não vai dar lucro. Melhor "morrer" com as taxas bancárias e seguir com a vida.

Segue de volta pra Parada da Acolhida.Ironia.Sua casa acolhedora fica ao lado da primeira estação, e quem para por aqui não tem receio de voltar. Mora no melhor hotel da cidade, herança de família.Pouco depois de entrar no quarto e esvaziar a bolsa, cai da cama no susto de ter tropeçado e se esfaqueado acidentalmente. Cama de metal frio e coberta com lençol branco. Ainda bem que é sonho e nessas horas se acorda.

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